Queda da Havaianas não é explicada por boicote da oposição

As ações da Alpargatas (ALP4), dona da marca Havaianas, operava em queda de 2,39% por volta das 17h desta 2ª feira (22.dez.2025) na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), em um pregão marcado por baixa generalizada do setor de tecidos, vestuário, calçados e acessórios, bem como no de varejo em geral.

O recuo dos papéis se deu no mesmo dia em que a empresa passou a ser alvo de críticas e boicote de políticos de direita por causa de uma campanha publicitária com a atriz Fernanda Torres.

No leilão de abertura, houve precificação de perdas mais intensas, próximas de 7%, mas o movimento foi se reduzindo ao longo da manhã.

A queda, contudo, não foi isolada. Outras companhias do setor tecidos. vestuário e calçados apresentavam desvalorização. Entre elas:

• C&A (CEAB3): -2,75%
• Guararapes Confecções (GUA3), controladora da Riachuelo: -4,20%
• Renner (LREN3): -3,32%;
• Veste (VSTE3): -0,24%

No setor de calçados, especificamente, todas as empresas registravam desempenho negativo:

• Vulcabras (VULC3), gestora da Mizuno, Olympikus e Under Armour: -2,06%;
• Cambuci (CAMB3), dona da Penalty: -1,01%;
• Grendene (GRND3), dona das marcas Melissa, Rider, Ipanema e outras: -0,19%.

Para analistas, o movimento se deu em um dia de baixa generalizada do mercado, especialmente entre empresas de varejo, cujas ações costumam oscilar mais do que o índice em momentos de maior volatilidade, sem reação direta dos investidores à controvérsia política envolvendo a campanha da Havaianas. Esse tipo de papel tende a registrar quedas mais intensas em pregões de aversão ao risco.

O desempenho do Ibovespa só não foi pior porque ações de empresas de commodities, como Petrobras e Vale, limitaram as perdas do índice:

• Ordinárias da Petrobras (PETR3): +0,52%;
• Preferenciais da Petrobras (PETR4): +0,71%;
• Vale (VALE3): +3,06%.

Além disso, o período de fim de ano contribui para movimentos mais acentuados, com menor volume de negócios e comportamento mais setorial dos investidores, já que muitos reduzem a exposição antes do recesso.

BOICOTE

A polêmica envolvendo a marca começou após a divulgação de uma campanha publicitária da Havaianas com a atriz Fernanda Torres. No vídeo, a artista faz uma brincadeira com a expressão “pé direito”, frase que foi interpretada por políticos da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como um posicionamento político.

Entre as reações, o deputado federal cassado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou um vídeo em que joga um par de Havaianas no lixo. “Eles escolheram, para ser garota-propaganda da sandália, uma pessoa de esquerda. Isso não foi por acaso. O pé direito e o esquerdo vão para o lixo”, afirmou.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) também criticou a campanha. Em seu perfil no X (ex-Twitter), escreveu: “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”.

Já a deputada Bia Kicis (PL-DF) pediu boicote à marca na mesma rede social. “Se as Havaianas não nos querem, nós também não queremos as Havaianas”, escreveu. Em vídeo, a congressista aparece colocando um par de sandálias dentro de uma sacola.

O deputado estadual por São Paulo, Gil Diniz, disse que o boicote “mostra mais uma vez o óbvio: o bolsonarismo está mais forte do que nunca”.