A B3 decidiu entrar de vez no mercado de tokenização ao anunciar, em seu encontro anual com investidores, que vai lançar a própria tecnologia baseada em blockchain em 2026. Com foco na tokenização de ativos reais, a companhia vai começar pelo mercado de ações.

A tokenização de ativos reais já movimenta um mercado estimado em US$ 407 bilhões, segundo dados da RWA.xyz, US$ 130 bilhões a mais que no início do ano. Até 2030, esse mercado, pode chegar a US$ 4 trilhões, segundo o Citi, mas estimativas mais otimistas projetam um crescimento para até US$ 30 trilhões.

No Brasil, os principais casos de uso são a tokenização de crédito, com o Mercado Bitcoin, Nexa e AmFi entre os players relevantes. Dentro desse universo, que cresce a passos largos, as ações tokenizadas ainda representam uma fatia pequena, de menos de 1%.

“Estamos construindo uma B3 ainda mais resiliente, inovadora e preparada para capturar as oportunidades nesse cenário mais desafiador e com maior competição”, diz Gilson Finkelsztain, CEO da B3.

O modelo prevê que a ação original continue registrada na depositária tradicional da B3, enquanto um token lastreado nesse papel é emitido em paralelo. “O token pode servir para uma série de outros produtos e casos de uso que a gente e o mercado vai trabalhar”, afirma Viviane Basso, vice-presidente de Operações.

O primeiro caso de uso que a B3 vislumbra para as ações tokenizadas é a possibilidade de negociação 24/7. “Com essas tecnologias não forçamos todas as corretoras a fazerem as operações em 24/7, mas, quem quiser fazer, vai conseguir por meio dessa infraestrutura totalmente tokenizada”, diz Rodrigo Nardoni, vice-presidente de tecnologia.

Os tokens, segundo a B3, terão a mesma liquidez que as ações. Isso porque as negociações serão feitas em uma infraestrutura tokenizada própria da Bolsa, integrada aos livros centrais de negociação, permitindo que ordens de ativos tradicionais e tokenizados se encontrem no mesmo ambiente de liquidez.

Para viabilizar as negociações dos tokens, a B3 afirmou que vai lançar sua própria moeda digital, uma stablecoin atrelada ao real. A iniciativa coloca a companhia em um mercado que já conta com outros projetos, como o BRL1, desenvolvido por um consórcio de corretoras, e o BBRL, do Braza Bank.

Além de funcionarem como meio de troca na compra de tokens, as stablecoins têm sido cada vez mais usadas como solução para pagamentos internacionais, como uma alternativa mais rápida e barata ao sistema tradicional do Swift.

A B3 não detalhou todos os planos para sua stablecoin, mas afirmou que a oportunidade nesse mercado se ampliou após o Banco Central reduzir o escopo do projeto do Drex, que previa a criação do real digital.

“A stablecoin da B3 ocupa um pouco um vácuo deixado pelo fim do Drex. O mercado tem essa demanda por um ativo para fazer a liquidação de toda a economia digital e acreditamos que uma stablecoin B3 está muito bem posicionada para ser esse ativo independente.”

Bolsa vazia não para de pé

Enquanto busca ganhar espaço em novos negócios, a B3 segue ajustando as velas para capturar um eventual ciclo mais favorável no mercado de capitais — que continua sendo o eixo mais relevante de sua atuação.

Desde 2021, o volume médio diário de negociações na B3 recuou cerca de 31%, para R$ 21,8 bilhões. Ainda assim, a companhia avalia que um eventual “vento de cauda” favorável no mercado de capitais pode fazer esses números saltarem para patamares muito superiores aos observados nos últimos anos.

“É muito provável que a gente tenha o ADTV da companhia, em um momento de conjuntura mais favorável, subindo de R$ 25 bilhões, não para R$ 30 bilhões, mas em direção a R$ 50 bilhões, R$ 60 bilhões ou R$ 70 bilhões no mercado de renda variável”, diz André Milanez, CFO da B3.

Para chegar a esses números, a B3 combinou o comportamento histórico do mercado em ciclos de queda de juros com as mudanças estruturais ocorridas nos últimos anos, como o aumento da base de investidores pessoa física e a maior facilidade de acesso ao mercado após a transformação do modelo de distribuição de produtos financeiros no país.

Esse cenário, segundo Finkelsztain, deve começar já em 2026, para quando o mercado prevê o início do ciclo de corte de juros. “Acho que 2026 pode surpreender positivamente em termos de volume e fluxo de capital. Tem muita coisa que é em função da queda de taxa de juros, que começa ano que vem.”

Relacionados

Na bolsa brasileira, um novo "dono" tem feito preço

Neoenergia engrossa a lista das empresas que podem deixar a B3

A "equação" de R$ 500 bilhões do CEO da B3